A criação de uma política consistente de geração de empregos será um dos principais desafios a ser enfrentado pelo futuro presidente do Brasil. Embora os números mais recentes mostrem mais estabilidade, com taxa de desemprego em 9,1%, segundo o IBGE e os empregos com carteira assinada aumentando este ano, os especialistas avaliam que os dados não são suficientes para trazer estabilidade ao trabalho e fazer a economia girar.
O professor de economia da UnB, José Luís Oreiro, lembra que a economia brasileira é basicamente voltada para o agronegócio, que emprega pouco. Para abrir novas vagas de trabalho no país, o novo governo terá de incentivar a indústria de transformação e a construção civil, que precisam de muita gente trabalhando.
Ao analisar os números mais recentes de geração de emprego, o professor salienta a má qualidade dos empregos gerados. “O país precisa de uma política de geração de bons empregos. O que há hoje é geração de subemprego, porque ou são empregos informais ou o autoemprego, pessoas enquadradas no MEI (Microempreendedor Individual)”, avalia.
Oreiro acrescenta que este tipo de mão de obra agrega pouco à economia “porque são empregos de baixa produtividade”, com remuneração que mal dá para se alimentar. “São empregos precários, que não dão tração para a economia. A renda servirá praticamente para atender as necessidades básicas desse trabalhador”, pontual. Esse trabalhador, diz ele, não poderá entrar para o mercado de consumo, adquirindo, por exemplo, bens duráveis, como geladeira ou automóvel.
Mesmo o crescimento econômico de 2,5% verificado no primeiro semestre deste ano, é insuficiente para dizer que há conforto para geração de empregos, uma vez que o que se verifica é a recuperação em relação ao ano passado e não revela uma economia ativa. É o que diz a economista Patrícia Castro, supervisora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) Dieese, segundo quem, mais do que crescimento, o país precisa de desenvolvimento.
“É precisa garantir que país cresça e se desenvolva, não adianta crescer apenas. O PIB brasileiro cresceu, mas os empregos que estão sendo gerados são de baixa qualidade e baixa renda. Existe um problema que não se resolve. As categorias não conseguem ter um reajuste de salário acima da inflação. Muitas delas nem conseguem repor a inflação. Com isso, verificamos uma perda de poder aquisitivo grande que vai jogando as pessoas nessa pobreza e nessa miséria que a gente vem observando”, diz a pesquisadora.
Além da defasagem salarial, Patrícia aponta que o salário-mínimo também está bastante desvalorizado.
Segundo levantamento do Dieese, levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o valor do mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas básicas de um trabalhador e da família dele, o mínimo deveria ser hoje de R$ 6.298,91. Este ano o salário-mínimo custa R$ 1.212,00 e para o ano que vem, o Projeto de Lei Orçamentária prevê aumento para R$ 1.302,00.