A divisão do MDB em torno da pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) reflete a existência de duas correntes antigas no partido. Uma delas, mais próxima ao petismo e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é encabeçada pelo senador Renan Calheiros (AL), que, hoje, defende abertamente que a legenda apoie o presidenciável de esquerda já no primeiro turno. Outra, liderada pelo ex-presidente Michel Temer, sustenta o nome da parlamentar como o rosto da sigla nestas eleições.
O racha ficou mais evidente frente à agenda de lideranças do partido na segunda-feira, 11. Enquanto Lula jantava com caciques da legenda, incluindo Renan Calheiros, na mansão do ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE), Tebet se reunia com Temer e com o presidente da sigla, Baleia Rossi, para fortalecer sua pré-campanha e fazer um contraponto ao grupo antagônico.
Renan Calheiros é uma figura respeitada nos corredores do PT desde os anos 2000, quando assumiu pela primeira vez a cadeira de presidente do Senado, durante o segundo mandato de Lula. Em 2007, reportagem da revista Veja denunciou que ele recorria à empreiteira Mendes Júnior para pagar a pensão alimentícia da filha que teve com sua amante, a jornalista Mônica Veloso. À época, o MDB conseguiu articular apoio na Casa para impedir sua cassação, mas, passados poucos meses, ele acabou renunciando à presidência para evitar perda do mandato.
Dessa maneira, após ter sido um dos primeiros emedebistas a se aproximar de Lula, Renan perdeu protagonismo no governo devido à denúncia de corrupção. Ele voltaria à presidência do Senado em 2013, durante a gestão Dilma Rousseff, e presidiria a Casa durante o processo de impeachment da petista.
Já Temer, que era deputado federal antes de compor chapa com Dilma, presidiu a Câmara dos Deputados por três mandatos: de 1997 a 2001 e de 2009 a 2010. Em 2005, ele esperava apoio de seu correligionário e então presidente do Senado, Renan Calheiros, para se lançar à presidência da Casa. O senador, contudo, preferiu ajudar Aldo Rebelo (então no PCdoB), o que causou desconforto com Temer.
Anos mais tarde, durante o processo de impeachment que tornaria Michel Temer presidente da República, Renan Calheiros votou pela cassação da então presidente, ensaiando uma reaproximação com o ex-deputado federal, mas participou dos esforços bem sucedidos para que ela mantivesse seus direitos políticos.
Meses antes, o Senado havia aberto uma comissão para estudar a implementação do semipresidencialismo, o que também foi recebido como um movimento de Renan para proteger Dilma. Ele argumentava que o impedimento seria uma “saída traumática” para a crise com o PT, e defendia reduzir os poderes da então presidente, mas deixá-la no cargo.